sábado, maio 19, 2012

A "Ria de Aveiro"

A Ria de Aveiro ou "Haff - Delta" de Aveiro é um dos acidentes do litoral português. Abarca onze mil hectares, dos quais seis mil estão permanentemente alagados. A Ria desdobra-se em quatro importantes canais ramificados em esteiros que circundam inúmeras ilhotas. Nela desaguam o rio Vouga, o Antuã, o Boco e o Fontão, tendo como única comunicação com o mar um canal que corta o cordão litoral entre a Barra e São Jacinto, permitindo o acesso ao Porto de Aveiro, de embarcações de grande calado. 
Este belo ecossistema lagunar é rico em peixes, aves aquáticas, insectos e espécies terrestres. A Ria de Aveiro estende-se pelo interior, paralelamente ao mar, numa distância de 45 quilómetros e com uma largura máxima de 11 quilómetros, no sentido Este-Oeste de Ovar a Mira. 
A ria é o resultado do recuo do mar, da deposição de areias transportadas quer pelo rio Vouga, quer pelas correntes marítimas que originaram a formação de cordões litorais que, a partir do século XVI, formaram uma lagoa (ou laguna) que constitui um dos mais importantes e belos acidentes hidrográficos da costa portuguesa.

A Ria de Aveiro possui grandes planos de água que são locais de eleição para o turismo, nomeadamente, para a prática de todo o tipo de desportos náuticos. Embora tenha vindo a perder, de ano para ano, a importância que já teve na economia aveirense, a produção de sal, utilizando técnicas milenares, é ainda uma das actividades tradicionais mais características da cidade de Aveiro. Fique agora com a apresentação sobre a Ria de Aveiro, elaborada pelo Clube Natureza e Aventura de Ílhavo

sexta-feira, maio 18, 2012

DOMINGO DE ANGOLA

"Para mim, domingo de Angola é paraíso. É um Céu. Colorido. É moamba de peixe ou caril de galinha de Quilengues. Domingo de Angola não tem rival no mundo. Começa na praia e acaba na sesta. Não tem Sporting-Benfica, nem linha de Sintra, não tem passeio a Vila Franca. Não tem touros, nem Cacilhas, nem caracóis no Ginjal. Domingo de Angola, para mim, é o melhor domingo do mundo que eu conheço – e que já não é nada pequeno, benza-o Deus. Moamba para mim é um ritual. Tem pirão de fuba de mandioca – que eu sou do Sul, usa-se de milho, mas eu prefiro de mandioca à moda do Norte, à moda de Malanje, tal qual no Uíje – mete farinha de pau e obrigado velha que está uma delícia. Tem de ser comido à sombra de um palmeira ou coqueiro, debaixo de uma mandioqueira ou mangueira quando é no interior. Porque coqueiro só no litoral. É por estas e por outras que eu gosto do domingo em Angola. Domingo de Branco. Domingo de Preto. Domingo de todos, domingo de missa, de padre, de domingo. A verdadeira moambada, aquela que é feita de galinha tenra, tão tenra que sabe a peito de virgem, a moamba verdadeira, tem de ser do cacho primeiro da palmeira do quintal. O molho será apurado pelo velho cozinheiro, que foi mestre dos pais, dos filhos e dos filhos dos filhos. Tem molho que é de “come e arrebenta e o que sobra vai no mar” como dizia o poeta patrício e mulato Viriato da Cruz, no “Sô Santo”. Moamba verdadeira, repito, só se come duas ou três vezes na vida. É preciso estar-se em estado de graça. Estar-se com Nosso Senhor e com os anjos. Moamba para mim, é saudade, hoje que estou longe, hoje que estou perto. Estou perto de estar tão longe. Não compreendem leitores? A gente está longe e tem saudades. Antes de adormecer, pela noite, vem a lembrança, da pitangueira do quintal, da Rosa Lavadeira, do amo-seco Canivete que falava “axim” à moda de Viseu, e tudo isso aparece nítido, cada vez mais claro e puro como certas horas da madrugada da Serra do Lépi. A primeira vez que comi moamba, dela me lembro como da primeira vez que beijei mulher, do primeiro desafio de futebol, do primeiro amor nocturno na areia da praia, com mulher de verdade. A primeira moamba, lembra-se como se lembra a primeira ida à escola. O travo nativo do cacho de déndém, que leva meses a fazer-se, até os frutos terem a tonalidade da queimada. Metade o clarão no céu da noite, a outra metade, escuro, um escuro de breu. Tudo isso o sabor tropical junta naquele fruto, que tem brisa do mar, sol de praia, frescura de casuarina, amor de mulata. O coconote e as influências indianas nadando no molho. Tem jindungo, a moamba genuína, aquela que cheira a sândalo, que escorre do canto da boca, do patrício apaixonado, de olho rútilo e lábio trémulo. Mas a galinha, essa tem de ser de Quilengues, magra e criada no mato, quase sem penas, galinha de sanzala, galinha de preto, que é como quem diz, de pobre. Isto está divinal, velha, eu um dia volto. Se entra a erva-doce, zumba que zumba e farinha de pau, oh, céus, oh, Mãe, isto não é moamba, isto é poesia. Literatura. Mas tem de ser comida no terreiro da casa de adobe do bairro velho. Tem de ser comida em ritual, na casa de adobe com telhado de zinco da estrada da escola da Liga, ou num dos Muceques de Luanda, por sobre as areias avermelhadas do Prenda ou do Burity. Depois a altura do peito de mulher na moleza da carne ou do peixe. Se é “roncador”, aka, é peixe da costa e sabe que sabe tão bem. Mas de galinha é melhor. Galinha de Quilengues escanifrada, repito. Galinha de pobre. Fico por momentos em êxtase, as mãos sobre o estômago, lembrando o terreiro da família Gamboa lá de Luanda onde comi uma coisa dessas uma vez há muitos anos. Num bairro velho de Benguela, eu estarei ainda um dia com meus companheiros dos tempos de eu menino, comendo moamba e bebendo quissângua à sombra do bambu do Edelfride – na casa do Edelfride. Moamba é riqueza de pobre e fraqueza de rico. Entra em palácios sem pedir licença, com o mesmo à vontade com que se senta nos quintais com sombra de mangueira e entra em terrina de esmalte, prato de esmalte, caneca de esmalte, garfo de alumínio. Velho sonho de poeta, lembrança de castimbala, moambada para mim é saudade e sonho, recordação e batuque, história de amor. Um dia, quando eu voltar, hei-de comer uma moambada de peixe ou de carne, à sombra de um cajueiro, num Muceque de Luanda, moamba do cacho primeiro da palmeira do quintal, não é velha? Depois de muito beber dormirei a sesta. E hei-de gostar de ouvir um desses rapazes do meu tempo, feito velho de cabelos brancos, recitar baixinho enquanto adormeço, a balada do Viriato: “… Kitoto e batuque pró povo lá fora champanha, ngaieta tocando lá dentro… Garganta cantando: “Come e arrebenta E o que sobra vai no mar…” Para mim, domingo de Angola é isso tudo. Um Céu colorido. Uma moamba de peixe. Uma noite de luar. … não tem Sporting-Benfica, não tem touros, nem caracóis no Ginjal…" Ernesto Lara Filhoin Jornal de Notícias, 1957 - Nota: Ernesto Lara Filho era irmão da poetisa Alda Lara

quinta-feira, maio 17, 2012

Deus segundo Espinoza

DEUS SEGUNDO ESPINOZA:
"Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor."
"Respeita o teu próximo e não lhe faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que o teu estado de alerta seja o teu guia."
"Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. "
"Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, tocando em ti."
Quer acredite ou não, as palavras acima, foram escritas em pleno século XVII, e são de Espinoza.
Baruch (Bento ou Benedito)  Espinoza nasceu em 1632 em Amesterdão e faleceu em Haia, em 21 de fevereiro de 1677. Foi um dos grandes racionalistas do século XVII, dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com Descartes e Leibniz.
Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

quarta-feira, maio 16, 2012

HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?

Recorde (ou conheça), hoje, o grupo californiano Creedence Clearwater Revival no tema "Have You Ever Seen The Rain?
Creedence Clearwater Revival foi uma banda de "country rock",  constituída por John Fogerty (guitarra e vocais principais), Tom Fogerty (guitarra), Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria), que, sob outras denominações, tocavam juntos desde 1959. Adoptaram o nome Creedence Clearwater Revival em 1967. Com ele lançaram as primeiras gravações em 1968. O nome surgiu pela junção do nome de um amigo de Tom Fogerty, "Credence Nubal", com "Clearwater", uma cerveja da época e Revival, simbolizando a união entre os membros, que já tocavam juntos desde 1959. Ao nome de Credence, adicionaram um "e" para lembrar "creed" (crença, credo). Em 1968 obtiveram o primeiro disco de ouro, com o álbum de estreia, Creedence Clearwater Revival.
Ao longo da carreira, entre singles e álbuns, conquistaram nove discos de ouro e sete discos de platina. Separaram-se em julho de 1972. John Fogerty foi quem teve mais êxito na carreira solo. O seu irmão Tom faleceu em 6 de setembro de 1990. Em 1993, o Creedence Clearwater Revival deixou a sua marca no Rock and Roll Hall of Fame. Recentemente, Stu Cook e Doug Clifford formaram o Creedence Clearwater Revisited, e passaram a dar concertos pelo mundo, tocando os antigos sucessos da formação original.
 "HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?"
Someone told me long ago There's a calm before the storm,
I know; It's been comin' for some time.
When it's over, so they say, It'll rain a sunny day,
I know; Shinin' down like water.

CHORUS:
I want to know, Have you ever seen the rain?
I want to know, Have you ever seen the rain
Comin' down on a sunny day?

Yesterday, and days before, Sun is cold and rain is hard,
I know; Been that way for all my time.
'Til forever, on it goes Through the circle, fast and slow,
I know; It can't stop, I wonder.

CHORUS
Yeah!
CHORUS

segunda-feira, maio 14, 2012

Velha Chica

Proponho-lhe que oiça (e veja), hoje, Dulce Pontes e Waldemar Bastos em "Velha Chica" (Live 1999). Dulce Pontes (1969) é uma das cantoras portuguesas mais populares e reconhecidas internacionalmente. Canta canções pop, música tradicional portuguesa (fado e folclore incluído), bem como música clássica. Costuma definir-se como uma artista da "world music". Também compõe alguns dos temas que canta. A sua actividade artística contribuiu para o renascimento do fado nos anos noventa do século passado. Dulce distingue-se principalmente pela sua voz, que é versátil, dramática e com uma capacidade invulgar de transmitir emoções. É uma soprano dramática com uma voz potente, versátil e penetrante. É considerada uma das melhores artistas dentro do panorama musical português. Já actuou no Carnegie Hall e ao lado de nomes como Enio Morricone, Andrea Bocelli e José Carreras.
Tal como já referi, aqui neste blogue, Waldemar Bastos é, em contrapartida, um dos maiores ícones da música angolana de todos os tempos.

domingo, maio 13, 2012

Espaço curvo e finito

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
José SaramagoDe "Os Poemas Possíveis", Editorial Caminho, Lisboa, 1981. 3ª edição