sábado, março 23, 2013

Por um lado...




"Por um lado não posso deixar de escrever. Por outro, reconheço que não tenho já nada a dizer. Então, tiro a média e ponho-me sobretudo a imaginar o que devia escrever."
Vergílio Ferreira

sexta-feira, março 22, 2013

Desigualdade Para Todos

Trago-lhe aqui, hoje, um artigo da jornalista Alexandra Prado Coelho, a propósito do documentário "Desigualdade Para Todos" que foi notícia no Público de 4/02/2013.

"Nos EUA, as 400 pessoas mais ricas têm tanto como 150 milhões de pobres, avisa Robert Reich. O documentário Desigualdade para Todos apresentado no festival de Sundance dá-lhe voz. E ele diz que é um mundo diferente é possível.
Há bastante tempo que o economista norte-americano Robert Reich vem repetindo uma mensagem: os 400 americanos mais ricos têm, em conjunto, tanto dinheiro como os 150 milhões de americanos mais pobres. Agora Reich encontrou uma plataforma ideal para que esta mensagem chegue a mais gente. O documentário – “poderoso”, chamou-lhe o The Observer – Inequality for All (Desigualdade para Todos), que passou no Festival de Sundance, nos EUA, tem Reich como figura central e as suas ideias como fio condutor para contar a história da desigualdade económica que não tem parado de aumentar.

No trailer, Reich aparece a explicar que uma forma fácil de medirmos as desigualdades é através da comparação entre o salário do trabalhador americano médio e o de um americano num dos lugares de topo. Um gráfico animado começa a comparação em 1978, ano em que um trabalhador médio recebia cerca de 48 mil dólares, enquanto alguém que fizesse parte do 1% no topo receberia algo como 393 mil dólares.

O gráfico avança depois rapidamente para o ano de 2010: o trabalhador médio ganha menos do que ganhava em 1978 (33 mil dólares), enquanto o do topo ganha 1101 mil dólares. No final Reich repete: “Pensem nisto, hoje 400 pessoas têm tanta riqueza como 150 milhões, metade da população americana”. E mais: os seis herdeiros da cadeia de distribuição Walmart possuem uma fortuna maior do que a do conjunto de 33 milhões das famílias americanas mais pobres.

Carole Cadwallard, jornalista do Observer, diz que Inequality for All foi um sucesso inesperado em Sundance, ao defender a tese de que o capitalismo norte-americano abandonou a classe média, tornando os mais ricos super-ricos. A força do documentário está em grande parte na figura de Reich – aliás, o filme, dirigido por Jacob Kornbluth, segue as aulas do economista na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 2012. E Reich não é um economista desconhecido. Hoje com 66 anos, foi secretário de Estado do Trabalho na Administração de Bill Clinton entre 1992 e 1996.
No início do filme, conta Cadwallard, Reich apresenta-se a uma plateia de alunos explicando o seu percurso, e recuando cada vez mais no tempo. Antes de Clinton, esteve na Administração Carter. “Mas vocês não se lembram de Carter, pois não?”. E, perante o silêncio dos alunos, prossegue: “E antes fui agente especial de Abraham Lincoln. Esses sim, foram tempos duros”.

Foi depois de ter lido Aftershock, um dos livros de Reich (o mais recente intitula-se Beyond Outrage e propõe-se explicar o que correu mal com “a nossa economia e a nossa democracia” e como resolver isso), que Kornbluth decidiu desafiá-lo a fazer um filme sobre a situação económica nos EUA. Uma parte substancial de Inequality for All foi paga com dinheiro recolhido através do site de crowd-funding Kickstarter.com, que tem sido usado por vários realizadores independentes.

O discurso de Reich teve um grande eco em Sundance e o Observer considera que o documentário pode vir a tornar-se o fenómeno do ano e “fazer pela economia o que Al Gore [com o seu An Inconvenient Truth] fez pelo ambiente”.

O que o filme de Kornbluth conta, explica Cadwallard, é a história de como a classe média foi ficando cada vez mais privada do bolo económico. Uma situação que não é benéfica para ninguém, sublinha Reich. Dado que 70% da economia depende do poder de compra desta classe média, se esta não puder comprar, a economia não pode crescer. É a mesma mensagem que outros economistas têm repetido, mas Reich fá-lo de uma forma particularmente clara, e, segundo a jornalista do Observer, divertida.

“Eu nunca tinha feito nada político antes”, afirma o realizador. “Não me considerava uma pessoa política. Mas ver o exemplo de [Reich], a forma como ele conduziu esta luta durante tantos anos foi uma inspiração para mim. Vejo isso nos estudantes dele – eles saem das aulas e querem mudar o mundo”.

Os americanos não têm vivido acima das suas posses”, defende, num dos posts do seu blogue. “O problema é que as posses deles não têm acompanhado o crescimento da economia”. O filme apresenta também essa realidade através de casos concretos, e muitos dos espectadores em Sundance confessaram ter chorado ao ouvir alguns dos testemunhos.

Mas, diz ainda Cadwallard, talvez a voz mais surpreendente do documentário seja a de Nick Hanauer, um milionário que faz parte do tal 1% de ricos, e que vem dizer que os impostos que paga são, na sua opinião, insuficientes. Hanauer diz o mesmo que Reich: o sistema não está a funcionar, porque a classe média não consegue comprar. “Eu posso guiar o melhor Audi da cidade, mas é apenas um…”.

Reich considera que um dos momentos decisivos para explicar a actual situação foi o desinvestimento feito na educação na década de 70. A partir daí, diz o economista, as oportunidades para as classes mais baixas reduziram-se, e a força de trabalho americana começou a perder terreno.

Há 30 anos que Reich repete as mesmas ideias, e, no entanto, a mensagem tem tido dificuldades em passar. "Porquê?", pergunta-lhe um jornalista do Huffington Post. “Em parte, por cinismo”, responde. “Somos cínicos em relação à política e à nossa democracia. E em parte porque não compreendemos que o mercado não pode funcionar sem regras do jogo criadas pelo Governo. Criamos o mercado através das regras que estabelecemos numa democracia, e temos poder sobre ele. Nós não trabalhamos para a economia. Deve ser a economia a trabalhar para nós.”"
 ALEXANDRA PRADO COELHO  - Público 04/02/2013

quinta-feira, março 21, 2013

Árvores

São plátanos palmeiras castanheiros
jacarandás amendoeiras e até as
oliveiras que
quando a noite cai na infância formam uma
cortina escura na estrada frente à casa
árvores apagando os dias que a memória
avidamente esconde

no corpo do seu gémeo Penetra inutilmente
na terra essa raiz do branco plátano
adolescente
e o campo do tempo onde as palmeiras eram
pilares do corpo nu símbolo de
si mesmo, à luz
do dia fixo, já se estende

na húmida manhã dos castanheiros
Esquecimento que tudo enfim possuis
e geras
a ofuscante luz igual à da
memória, do tempo como ela
filho, construtor da ausência,
em vão te invoco Tu

que mudas a roxa amendoeira
em brancas flores do jacarandá
entrega a minha vida às árvores
que foram na manhã e no crepúsculo
no meio-dia e na noite, palavra
clara que traz o dia em si fechado
Gastão Cruz - de Crateras, 2000

quarta-feira, março 20, 2013

Yvoire

Yvoire é uma aldeia medieval francesa, fortificada,  que se situa junto ao lago Leman. Esta aldeia  pertence ao departamento da Alta Sabóia da região Ródano-Alpes. Está classificada entre "As mais belas aldeias de França" e é um destino turístico muito concorrido. Desde 1959, tem vindo a ser decorada, anualmente, no contexto do Concurso das Cidades e Aldeias Floridas da França. Em 2002 recebeu a medalha de prata no concurso europeu de localidades floridas.
Em 2006, a população local festejou os 700 anos de existência da aldeia, com cortejo e festividades medievais.
O Castelo de Yvoire foi construído no século XIV, mas destruído rapidamente pelos senhores de Berna. A sua torre de menagem só foi reconstruída no século XX.
Viaje agora até Yvoire, através da pequena apresentação que se segue.  

terça-feira, março 19, 2013

O Pai


Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda, in "Crepusculário" 

segunda-feira, março 18, 2013

Céu Azul

Tão natural quanto a luz do dia
Mas que preguiça boa, me deixa aqui a toa
Hoje ninguém vai estragar meu dia
Só vou gastar energia pra beijar sua boca

Fica comigo então, não me abandona não
Alguém te perguntou como é que foi seu dia?
Uma palavra amiga, uma noticia boa
Isso faz falta no dia a dia
A gente nunca sabe quem são essas pessoas

Eu só queria te lembrar
Que aquele tempo eu não podia fazer mais por nós
Eu estava errado e você não tem que me perdoar

Mas também quero te mostrar
Que existe um lado bom nessa história
Tudo que ainda temos a compartilhar

E viver, e cantar
Não importa qual seja o dia
Vamos viver, vadiar
O que importa é nossa alegria
Vamos viver, e cantar
Não importa qual seja o dia
Vamos viver, vadiar
O que importa é nossa alegria

Tão natural quanto a luz do dia
Mas que preguiça boa, me deixa aqui a toa
Hoje ninguém vai estragar meu dia
Só vou gastar energia pra beijar sua boca

Eu só queria te lembrar
Que aquele tempo eu não podia fazer mais por nós
Eu estava errado e você não tem que me perdoar

Mas também quero te mostrar
Que existe um lado bom nessa história
Tudo que ainda temos a compartilhar

E viver, e cantar
Não importa qual seja o dia
Vamos viver, vadiar
O que importa é nossa alegria
Vamos viver, e cantar
Não importa qual seja o dia
Vamos viver, vadiar
O que importa é nossa alegria

Tão natural quanto a luz do dia
Charlie Brown Jr. - "Chorão"

domingo, março 17, 2013

As Coisas Importantes da Vida...

Hoje deixo-o (a), com um pequeno filme de animação, que que fala das coisas que são verdadeiramente importantes na vida. Daquelas pequenas coisas que fazem com que ela se torne uma vida boa e feliz. Os desenhos foram retirados do livro "Be Happy: A Little Book To Help You Live A Happy Life" de Monica Sheehan. Pare uns minutos e desfrute deste pequeno filme.