domingo, maio 08, 2016

O Douro preso em barragens

Douro Vinhateiro - Leonardo Bizcaya
Verde tão verde e as árvores no fundo.
No fundo os rápidos que de água se quebravam
subindo à sirga em de rabelos barcos.
Mais baixas as alturas se reflectem calmas
de rochas casas e arvoredo fundo.

Verde tão verde o rio se não corre
de lago é preso e um barco noutra margem
parado se contempla a esbelta proa arqueada
sobre o telhado inverso do solar antigo.
Só brisa matinal se encrespa de água e morre.

Verde tão verde era de espuma e rocas
polindo-se tranquilas no fiar das águas.
Pelo Douro - João Escórcio
Vinham descendo os montes em socalcos que
lambidos se inseriam no passar dos barcos.
No fundo como nuvens se enverdecem rocas.

Verde tão verde era de rijas águas
de espumas e de pedras e de alteadas margens.
Tão verde ora de névoa surda
em que de gritos não barqueiros remam.
Que rio se era escuro e já de verdes águas.

Parado e sempiterno e velho de águas rio
não passas repassando as águas de outro tempo,
verde tão verde na manhã parada.
Jorge de Sena - Douro, 30/8/1971 - Exorcismos, Poesia III

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