sábado, janeiro 09, 2016

Despertadores Humanos

Sabe o que estas senhoras estão a fazer? Elas estavam no exercício da sua profissão de despertador humano!!
A profissão de "despertador humano" existiu até meados do século passado (mais ou menos até 1920).
Tratava-se de pessoas contratadas para acordarem outras. Era uma profissão muito vulgar sobretudo após a revolução industrial, na Irlanda e na Inglaterra, onde estes profissionais eram conhecidos como "knocker-up" ou  "knocker-upper".
 A senhora da imagem à esquerda estava, nada mais, nada menos, do que a expelir ervilhas para uma janela… para que o trabalhador se levantasse e desse mostras de estar já acordado.
Também eram utilizados outros "utensílios" tais como pedras, paus, canas, etc…

sexta-feira, janeiro 08, 2016

Um Trem Pras Estrelas

Oiça o cantor brasileiro Cazuza, em "Um Trem Pras Estrelas" (ao vivo, em 1987).
São 7 horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Cazuza

quinta-feira, janeiro 07, 2016

O Espelho (The Mirror)

"O Espelho (The Mirror)" é um filme soviético de 1975, do género drama, realizado por Andrei Tarkovski, considerado um dos 10 maiores filmes de sempre.
O roteiro foi escrito por Andrei Tarkovski e Alexander Misarin, a fotografia é de Georgy Rerberg, a montagem de Liuba Feiginova, e a banda sonora de Eduard Artemev.
Sinopse:
Num contexto mais amplo, "O Espelho" retrata os pensamentos e as emoções de Alexei (Ignat Daniltsev) e o mundo que o rodeia.
A estrutura do filme é descontínua e não cronológica, sem um enredo convencional, e combina as memórias da infância com metragens da actualidade.
O filme alterna três diferentes momentos, o tempo de pré-guerra, a guerra e o pós-guerra de 1960, constituindo quase uma autobiografia, pois Alexei passa pelos mesmos problemas, alegrias e tristezas que o realizador, Andrei Tarkovsky, passou na sua infância.
Veja o trailer em baixo e se quiser ver o filme legendado em inglês basta clicar aqui.

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Partiram’Nos Três Reis Magnos

"Romance dos três Reis Magos" é o título dado a diversos romances tradicionais portugueses que surgem espalhados pelo território nacional.
Todos eles narram o relato da história bíblica da viagem e adoração dos três Reis Magos e são frequentemente incorporados nas Cantigas de Reis. Para além disso, não possuem outras características comuns, revelando uma grande diversidade e indicando origens independentes. Destacam-se pelo menos três grupos: "São chegados os três Reis", "Avisados de uma estrela" e "Quem são os três cavaleiros".
"Partiram’Nos Três Reis Magnos" do Cancioneiro Popular Português, (Michel Giacometti, e FLGraça, Círculo de Leitores, 1981).
(E) partiram’nos três Reis Magnos

(e) da parte do Oriente

(e) visitaram Deus nascido,

Filho de a Virgem omnipotente.

(E) guiados pel’uma estrela,

os três Reis partiram pr’a costa,

(e) visitaram Deus-Menino

(e) quem no Céu, a terra adora.

(E) embarcaram numa nau,

(e) sem purder tempo nem hora.

(E) isto com quem Deus não vega,

(e) do mar o vento lhe assopra.

(E) gaveiro que atrepa à gaiva,

(e) lá le respondeu de a proa,

(e) que já se avista Bolém,

(e) já se vê Lisboa toda.

O nosso rei se vestiu de gala

(e) mais a sua gente toda.

Quando chegaram ao palácio

aonde estava o nosso rei,

(e) logo le perguntaram

se estavam longe de Belém.

O nosso rei por ser tão bom

(e) foi o próprio que les disse

(e) que fossem sempre andado,

(e) que o seu caminho seguisse.

(E) logo ali le ofereceram

(e) oiro, incenso e mirra,

(e) nem ouro como o mortal,

nem incenso como o divino.

Demos louvores à Senhora,

(e) demos graças ao Menino.

(E) Boas-Festas vimos dari

(e) à vinda dos Santos Reis,

(e) também vós tereis cuidado

(e) de arranjar o que nos deis.

terça-feira, janeiro 05, 2016

Expressões "bem portuguesas"

Um português não tem um problema, na realidade ele está "feito ao bife".

Um português não lhe diz para deixá-lo em paz, diz-lhe "vai chatear o Camões".

Um português não lhe diz que é sexy, diz-lhe "é boa como o milho".

Um português não repete o que diz, ele "vira o disco e toca o mesmo".

Um português nunca se aborrece (ou chateia), apenas "fica com os azeites".

Um português não tem muita experiência, ele tem "muitos anos a virar frangos".

Um português não se livra de problemas, ele "sacode a água do capote".

Um português não está numa situação desesperante, ele está com "água pela barba".

Um português não se irrita, ele "vai aos arames".

Um português que muda de ideias facilmente é um "troca-tintas".

Um português não é descarado, ele "tem lata".

Um português não se recusa a dar informação, ele "fecha-se em copas".

Um português não morre, ele "estica o pernil".

Um português não se faz de surdo, ele "faz orelhas moucas".

Um português não diz que está tudo suspenso por tempo indeterminado, ele diz que "ficou tudo em águas de bacalhau".

Um português não diz "É indiferente para mim", ele diz "Não me aquece nem me arrefece".

Um português não passou por situações difíceis, ele "passou as passas do Algarve".

segunda-feira, janeiro 04, 2016

Capricórnio

A capricorniana é capricornial
Como a cabra de João Cabral.
Eu amo a mulher de Capricórnio
Porque ela nunca lhe põe os próprios.

A caprina é tão ciumenta
Que até os ciúmes ela inventa.
Mulher fiel está aí: é cabra
Só que com muito abracadabra.

Suas flores: a papoula e o cânhamo
De onde vêm o ópio e a maconha
Ela é uma curtição medonha
Por isso nos capricorniamos.
Vinícius de Moraes 

domingo, janeiro 03, 2016

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias - De Primeiros cantos (1847)