sábado, março 26, 2016

O Cachafrito de Borrego

A Páscoa em Portugal incorpora nas suas tradições muitos elementos gastronómicos provenientes da nossa raíz judaico-cristã.
Após o longo período de privações da Quaresma, que impõe o jejum, com a Páscoa, retoma-se a mesa.
É comum em todo o país comer-se o borrego ou o cabrito (assado ou ensopado). No Minho o costume pascal inclui comer carne de bovino e frango, assado preferencialmente, na assadeira grande de barro vidrado (por exemplo de Barcelos). Na região do Porto é popular o lombo de boi, também conhecido como Boi da Páscoa e, na Beira Litoral, a chanfana e o leitão assado.
O Sul é o Reino do Cordeiro (cordeiro ritual da tradição hebraica). No Alentejo, o cordeiro aparece na gastronomia pascal, onde é mais conhecido pelo nome de borrego.
Em regiões de Portugal, onde as comunidades judaicas tiveram mais influência, ainda hoje se pratica com ritualidade religiosa o sacrifício do cordeiro pascal. Temo-las, por exemplo, em Castelo Vide no Alto Alentejo, que se tornou, por isso mesmo, um ponto de referência turística nesta quadra, independentemente do credo  religioso. É lá que encontramos um característico e pouco conhecido, prato de borrego, o cachafrito (também existe o cachafrito de coelho e o de cabrito), que pode conferir na receita abaixo, "pescada" na net.
Ingredientes:
Benção dos Borregos - Castelo De Vide - Páscoa
2,5 kg de borreguinho ou cabritinho (sela, costelas, espáduas)
6 dentes de alho
1 colher de sopa bem cheia de sal grosso
1 colher de sopa de colorau doce (ou massa de pimentão)
200 gr de banha (ou 1,5 dl de azeite)
1/2 copo de vinho branco
sal q.b.
Preparação:
Pelam-se os dentes de alho, abrem-se ao meio e retira-se-lhes o germe (vulgo grelo).
Deitam-se os alhos num almofariz, junta-se-lhes uma boa colher de sal grosso e esmagam-se até obter uma pasta.
A esta pasta juntam-se ainda o colorau (ou a massa de pimentão) e a banha e misturam-se tudo de modo a ficar bem homogéneo.
Corta-se a carne com os respectivos ossos em bocadinhos que se envolvem no tempero anterior.
Deixa-se ficar assim durante algumas horas ou de um dia para o outro.
Deita-se a carne (com o tempero) num tacho de barro e leva-se a lume brando, virando-a constantemente, até ficar loura e frita, sem contudo a deixar queimar.
Rega-se então a carne com o vinho branco e deixa-se ferver um pouco para evaporar e deixar de se sentir o sabor a vinho.
O cachafrito serve-se em travessa, acompanhado com batatas fritas cortadas em palitos finos.
À parte serve-se ainda uma salada de alface à moda alentejana com um fio de azeite, vinagre, um pouco de água, sal, hortelã e coentros finamente picados.
Nota: Em Castelo de Vide aplicam esta mesma receita ao coelho manso. Neste caso, não é prato de Páscoa nem sequer de festa. Faz-se em qualquer altura do ano como prato familiar.

sexta-feira, março 25, 2016

O Folar de Páscoa de Olhão

O Folar de Páscoa é um dos elementos de referência, na gastronomia pascal, do nosso país.
Existem no entanto, diferentes espécies de folares (nomeadamente, o folar doce e o folar gordo) com características e formas diversas. Contudo, é importante referir que a tradição do folar, qualquer que ele seja, assenta num ritual de dádiva, solidariedade e convívio profundamente enraizado na sociedade portuguesa.
O folar mais corrente em Portugal é um "bolo de massa seca, doce, e ligada, feito com farinha de trigo, ovos, leite, azeite, banha ou pingue, açúcar e fermento, e condimentado com canela e erva-doce, encimado, conforme o seu tamanho, por um ou vários ovos cozidos inteiros e em certos lugares tingidos, meio incrustados e visíveis sob as tiras de massa que os recobrem".
No Norte de Portugal come-se o folar doce e o folar gordo. Em Vila do Conde e na Maia, o folar doce, denomina-se pão-doce ou mesmo broinhas.
Diverso na feitura e também na apresentação, o folar, em Oliveira de Azeméis, assume a forma de uma galinha deitada sobre uma noz, ou de duas, bico com bico, cobrindo dois figos passados.
Em Trás-os-Montes, o folar doce é raro, dando lugar a um outro, gordo, de carne. Trata-se de uma bola feita de farinha, fermento, ovos, leite, azeite ou manteiga, carne de porco, entre outras carnes.
Já em Entre Douro e Minho e no Porto o pão-de-ló (por exemplo, o pão-de-ló de Margaride) substitui o folar.
Na Região Centro (Beiras) mais uma vez surge o folar que é comum a quase toda a região. Aqui o folar é doce e depois encimado, conforme o seu tamanho, por um ou vários ovos cozidos inteiros e em certos lugares tingidos.
Na região centro existe também a tradição dos Bolos da Páscoa. Na Covilhã ganham o nome de Empenadinhas da Páscoa. Noutras regiões encontram-se as broinhas e os bolos de azeite.
No Sul de Portugal, próximo de Elvas, os folares apresentam formas de animais, representando borregos, lagartos, pintainhos, pombos.
No Alto Alentejo, em Castelo de Vide, o folar assume a forma de um duplo coração recamado de ovos e decorado com motivos feitos da mesma massa. Um grande lagarto, com coleira de seda encarnada e lacinho igual na cauda.
A Páscoa,  festa comemorativa da ressurreição de Jesus Cristo, como vimos, está associada a práticas alimentares em que os ovos, os folares e as amêndoas ocupam o primeiro lugar.

Em homenagem a uma particular amiga, deixo-lhe aqui hoje, uma receita de um Folar de Páscoa do Algarve menos conhecido: O Folar de Páscoa de Olhão ou Bolo de Folha ou do Tacho.
Ingredientes:
Para a Massa do Folar:
Farinha - 500 gr
Fermento de Padeiro - 30 gr
Laranja - 1 (sumo)
Leite - 100 ml (morno)
Água - 650 ml
Sal - Uma pitada
Banha - 125 gr
Manteiga - 125 gr
Aguardente - 1/2 Chávena
Para o Recheio das Camadas
Manteiga - A gosto
Açúcar Amarelo - A gosto
Canela - A gosto
Preparação:
Misturar o fermento de padeiro com o leite morno até ficar dissolvido.
Pôr a farinha toda numa tigela grande e fazer um buraco no meio.  Deitar aí o leite com o fermento  e usar a farinha da periferia para amassar bem. Juntar depois o sumo de laranja, a água, o sal, a banha, a manteiga e a aguardente. Misturar tudo bem, se for preciso usar a batedeira.
Depois de bem amassado cobrir a massa com um pano e deixar repousar por 1 hora.
Retirar, depois, o pano da massa e amassar bem até não colar nos dedos (se for preciso ponha um pouco mais de farinha).
Agora pode fazê-lo de duas maneiras:
Se tiver latas ou um tacho com 10 centímetros de diâmetro, aproximadamente, pode fazê-lo da forma tradicional. Tire depois bocados de massa (uns maiores que outros), e, com um rolo de massa estenda-os e faça círculos com 0.5 cm de espessura. Unte a lata ou o tacho com bastante manteiga e coloque um dos círculos que deve cobrir o fundo e os lados. Coloque por cima umas nozes de manteiga, polvilhe generosamente com canela e açúcar amarelo, depois disponha outro círculo em cima desse, também pelo fundo e pelos lados e mais manteiga, canela e açúcar amarelo. Deve repetir o processo até ter pelo menos umas 5 ou 6 camadas e encher completamente o tacho ou lata.
Se não tiver este tipo de forma, não divida a massa. Estenda a massa toda com um rolo, de maneira a formar um rectângulo com quanta largura sobrar de massa e com 10/12 centímetros de altura. Ponha-lhe por cima, algumas nozes de manteiga e polvilhe-o com bastante canela e açúcar amarelo. Depois deve enrolar o rectângulo todo para fazer um cilindro com os 10/12 centímetros de altura.
Depois de ter o folar pronto, ponha-lhe, outra vez, um pano por cima e deixe-o num sitio quente a levedar durante 2 horas.
Por fim polvilhe o topo com açúcar amarelo e um pouco de canela e leve-o ao forno pré-aquecido a 190º C durante 1 hora. Desenforme ainda quente com ajuda de uma faca.

quinta-feira, março 24, 2016

A Páscoa nos Açores

A Páscoa nos Açores é marcada por várias manifestações de carácter religioso, por várias tradições gastronómicas, nomeadamente os folares dourados do Faial e pelos romeiros na ilha de S. Miguel.
Os Romeiros de São Miguel são constituídos por grupos ou ranchos de penitentes que, durante uma das semanas da Quaresma, percorrem a pé a ilha de São Miguel e visitam todas as igrejas e ermidas onde haja exposta a imagem da Virgem Maria.
As festividades da Páscoa nos Açores estão, assim, muito ligadas às celebrações eucarísticas e ao convívio e reuniões familiares.
Na Quinta-Feira Santa celebra-se a Ceia Grande (segundo a tradição católica, a última ceia de Jesus Cristo com os apóstolos). Esta é "recriada" em muitos lares, na noite de quinta-feira, juntando-se a família em volta da mesa e partilhando uma bem guarnecida ceia.
A Sexta-Feira Santa é dia de jejum,  dia respeitado ainda, por muitas pessoas. Neste dia nos Açores e em muitas localidades do país, há também a Via Sacra – caminho que terá feito Jesus Cristo até ao lugar da crucificação – sendo mesmo feita a encenação desse momento em alguns locais.
É na sexta-feira, ou então no sábado, que em muitas casas se fazem os folares.
No Sábado de Aleluia há a celebração da ressurreição.
No Domingo de Páscoa celebra-se a ressurreição e a vida, a família junta-se novamente e saboreiam-se vários pratos regionais.
Pascoa nos Azores - FolaresNos Açores os petiscos são: alcatra, torresmos, inhame, entre outros, e claro, os folares (pão doce, cuja massa é amarelada e muito fofa, tendo um ou dois ovos no seu interior, ou amêndoas (nos Açores) e as amêndoas (tradicionais por parecerem ovos pequeninos) ganhas no jogo do "Balamento"!
O jogo do Balamento ou Belamente é um jogo típico da Páscoa (quer da Medeira quer dos Açores) cujo prémio são amêndoas ou torrões de açúcar.
Findo o Domingo de Páscoa os açorianos já começam a pensar na sua tradição maior que são as Festas do Divino Espirito Santo.

terça-feira, março 22, 2016

Novo museu em Lisboa

Já conhece o novo Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) que está a ser construído em Lisboa mesmo à beira do rio Tejo?
É junto ao Museu da eletricidade e trata-se também de um projeto da Fundação EDP.
As obras já estão em andamento e a inauguração está prevista para o Verão de 2016.
 O projeto é da autoria da arquiteta britânica Amanda Levete e o arquiteto Pedro Gadanho será o director do futuro Museu.
Gadanho exerceu durante os úiltimos anos o cargo de curador de arquitetura contemporânea do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque.
 O edifício terá quase três mil metros quadrados para exposições e eventos.
Contará ainda com um restaurante com vista para a Ponte 25 de Abril, e será possível andar por cima do edifício. A escadaria exterior descerá até ao Tejo, criando um grande espaço público.
Como ainda não está concluído pode, por enquanto, apreciar as imagens do projeto deste belo edifício e o vídeo que aqui lhe deixo.

segunda-feira, março 21, 2016

Para bons marinheiros...

Os dois primeiros vídeos que lhe proponho que veja hoje, mostram barcos ao largo da costa de Washington e Oregon.
Estes barcos procuram atravessar a barra do rio Columbia (Columbia Bar), que é o local onde o rio Columbia encontra o oceano. Esta é uma das portas de entrada mais perigosas do mundo. O volume de água que flui do rio Columbia e a força do impacto que sofre com as tempestades do Pacífico Norte, combinam-se e criam assustadoras condições de mar.
Estes vídeos são adequados para bons marinheiros ou para quem não sofra de problemas cardíacos ou de enjoo.


O terceiro vídeo mostra como dois barcos de pesca enfrentam a barra do rio Grey (Grey River- Greymouth Nova Zelândia). A boca do rio Grey é protegida por um grande banco de areia, barra Greymouth, que é um perigo notório para a navegação.
Os barcos que vê no vídeo abaixo, possuem auto-alinhamento, têm um centro de gravidade baixo, o compartimento do motor é selado, as janelas de vidro são à prova de bala e o casco é de aço duplo.

domingo, março 20, 2016

O Sole Mio

Oiça as extraordinárias vozes de Bryan Adams & Luciano Pavarotti em O Sole Mio.
Pavarotti produzia, anualmente, concertos beneficentes chamados "Pavarotti e Amigos", na sua cidade natal, Modena, Itália, cantando ao lado de grandes músicos de vários estilos, incluindo Laura Pausini, Bryan Adams, Bono Vox, Mariah Carey, Sheryl Crow, Céline Dion, Elton John, Queen, Sting, Spice Girls , Jon Bon Jovi e Tracy Chapman, para arrecadar fundos para as causas da ONU. Estes concertos foram feitos para as crianças das guerras e vítimas das guerras da Bósnia, Guatemala, Kosovo e Iraque.
Este concerto com Bryan Adams aconteceu em Modena (Itália) em 1994.