sábado, março 25, 2017

O Jato de Água: A assinatura de Genebra


Genebra localiza-se nas margens do Lago Léman, na fronteira com a França. É o centro cultural e económico da Suíça de língua francesa e, ao mesmo tempo, a cidade mais internacional do país: quase 44% da população total (500 mil habitantes) é constituída por estrangeiros.
Esta cidade abriga mais de 200 instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a representação europeia da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O Jato de Água é para Genebra o que para Paris é a Torre Eiffel ou para NovaYork a Estátua da Liberdade. Assim, Genebra exibe-o orgulhosa na maioria dos seus cartões postais.
O que talvez não saiba é que foi o acaso que levou à existência deste famoso jato.
Tudo começou no século XIX quando Genebra vivia um desenvolvimento intenso. Com o crescimento da cidade, a necessidade de água aumentou quer para o abastecimento da população, quer para a indústria local. A câmara local resolveu então fazer construir uma estação elevatória para distribuir o fluxo de água proveniente do Rio Ródano. Esta realmente funcionou de 1886 a 1990.
Contudo à noite, quando as máquinas industriais paravam, os operadores tinham de ir a correr parar as bombas. Era preciso, então, ter alguém de serviço para ligar e desligar as bombas.
 Alguém teve, contudo,  a brilhante ideia de criar uma válvula de segurança para controlar a pressão da bomba. Quando precisava ser diminuída a pressão, jogava-se para o céu a água. E assim, nasceu o jato de água que inicialmente tinha só 30 m de altura.
Em Julho de 1891 para comemorar os 600 anos da Confederação Suíça, foi inaugurado um jato de 90 m no lago, que começou então a caracterizar a cidade de Genebra.
Hoje o jato tem uma altura média de 140 metros e uma velocidade de saída de água de 200 km/h, escoando 500 litros de água por segundo.
Atualmente o bom funcionamento do Jato d’ água de Genebra é garantido por voluntários reformados do Serviço Industrial da cidade.

sexta-feira, março 24, 2017

Cotovia

— Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?

— Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.

— Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.

— Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .

— E esqueceste Pernambuco,
Distraída?

— Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.

— Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!

— Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
— Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.
Manuel Bandeira

quinta-feira, março 23, 2017

Hidrografia

São belos os nomes dos rios
na velha Europa.
Sena, Danúbio, Reno são
palavras cheias de suaves inflexões,
lembrando em tardes de oiro fino,
frutos e folhas caindo, a tristeza
outoniça dos chorões.
O Guadalquivir carrega em si espadas
de rendilhada prata,
como o Genil ao sol-poente,
o sangue de Federico.
E quantas histórias de terror
contam as escuras águas do Reno ?
Quantas sagas de epopeia
não arrasta consigo a corrente
do Dniepre.
Quantos sonhos destroçados
navegam com detritos
à superfície do Sena ?
Belos como os rios são
os nomes dos rios na velha Europa.
Desvendada, sua beleza flui
sem mistérios.
Todo o mistério reside nos rios
da minha terra.
Toda a beleza secreta e virgem que resta
está nos rios da minha terra.
Toda a poesia oculta é a dos rios
da minha terra.
Os que, cansados, sabem todas
as histórias do Sena
e do Guadalquivir, do Reno
e do Volga
ignoram a poesia corográfica
dos rios da minha terra.
Vinde acordar
as grossas veias da água grande !
Vinde aprender
os nomes de Uanéteze, Mazimechopes,
Massintonto e Sábiè.
Vinde escutar a música latejante
das ignoradas veias que mergulham
no vasto, coleante corpo do Incomáti,
o nome melodioso dos rios
da minha terra,
a estranha beleza das suas histórias
e da suas gentes altivas sofrendo
e lutando nas margens do pão e da fome.
Vinde ouvir,
entender o ritmo gigante do Zambeze,
colosso sonolento da planura,
traiçoeiro no bote como o jacaré,
acordando da profundeza epidérmica do sono
para galgar os matos
como cem mil búfalos estrondeantes
de verde espuma demoníaca
espalhando o imenso rosto líquido da morte.
Vede as margens barrentas, carnudas
do Púngoè, a tristeza doce do Umbelúzi,
à hora de anoitecer. Ouvi então o Lúrio,
cujo nome evoca o lírio europeu,
e que é lírico em seu manso murmúrio.
Ou o Rovuma acordando exóticas
lembranças de velhos, coloniais
navios de roda revolvendo águas pardacentas,
rolando memórias islâmicas de tráfico e escravatura.
Ah, ouvidos e olhos cansados de desolação
e de europas sem mistério,
provai a incógnita saborosa
deste fruto verde,
destes espaços frondosos ou abertos,
destes rios diferentes de nomes diferentes,
rios antigos de África nova,
correndo em seu ventre ubérrimo
e luxuriante.
Rios, seiva, sangue ebuliente,
veias, artérias vivificadas
dessa virgem morena e impaciente,
minha terra, nossa Mãe !
Rui Knopfli -  Reino Submarino (1962)

quarta-feira, março 22, 2017

Cantiga da Agua



No Dia Mundial da Água proponho-lhe que veja o vídeo abaixo com a Cantiga da Água.
A importância de beber água na saúde humana, num excelente vídeo pedagógico.
Não perca a oportunidade de o ver. Vale bem a pena!

terça-feira, março 21, 2017

Se às Vezes Digo que as Flores Sorriem

Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
Alberto Caeiro (Heterónimo de Fernando Pessoa) -  "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXI" 

segunda-feira, março 20, 2017

Adorno

Toda a noite chorei na casa velha
Provei, da terra, as veias finas,
Um nome um nome a causa das coisas
Eu terra eu árvore eu sinto
todas as veias da terra
em mim e
o doce silêncio da noite.

domingo, março 19, 2017

Encontros de Águas 2

1- Rios Drava e Danúbio, Croácia.
O rio Drava (749 km de extensão) é um rio da Europa Central que nasce no Tirol Meridional (Itália) e segue na direção sudeste através da Croácia. Forma a maior parte da fronteira entre aquele país e a Hungria, e termina o seu curso no rio Danúbio, perto de Osijek.
O Danúbio é o segundo rio mais longo da Europa e tem entre 2 845 e 2 888 km de extensão. Atravessa o continente europeu de oeste a leste, desde sua nascente na Floresta Negra (Alemanha) até desaguar no mar Negro.
Passa por diversas capitais da Europa e constitui a fronteira natural de dez nações.


2- Rios Mosela e Reno, Alemanha.
O Mosela (560 km de extensão) é um rio do nordeste da França, do Luxemburgo e do oeste da Alemanha.
O Mosela é marcado ao longo do seu percurso por célebres vinhedos, desembocando no rio Reno à altura da cidade alemã de Koblenz.
O Reno é um rio com 1 233 km de comprimento. Atravessa a Europa de sul a norte, desaguando no mar do Norte no delta do Reno e Mosa.
Em conjunto com o Danúbio, o Reno constituía a maior parte da fronteira setentrional do Império Romano. Desde essa época que o Reno é um curso de água muito usado quer para o transporte quer para o comércio


3- Rios Ródano e Arve, Suíça.
O rio Ródano é um importante rio europeu. Com um comprimento total de 812 km, tem sua nascente na Suíça e acaba o seu curso na França, onde desagua no mar Mediterrâneo. É o rio francês mais caudaloso e o mais importante rio europeu a desaguar no Mediterrâneo.
O rio Arve é um curso de água secundário que nasce no passo de Balme no monte Branco e que desagua no rio Ródano, a sul de Genebra.
Tem um caudal importante e por receber nada menos do que 40 afluentes, geralmente torrentes, nos seus 107 km de comprimento, tem um regime tumultuoso, que se presta à prática do rafting de canoa ou ainda do hydrospeed.


4- Este é o lugar onde três rios se unem: o Danúbio, o Inn e o Ilz, Alemanha.
O Inn é um rio que atravessa três países: a Suíça, a Áustria e a Alemanha. É afluente do Danúbio, tem 510 quilómetros de comprimento e uma bacia hidrográfica de 25 700 km².
O Rio Ilz, conhecido como "a pérola negra" – nasce nas duas montanhas da Baviera Rachel e Lusen que estão perto da fronteira da Boémia. Possui uma extensão de 65 km, abrangendo uma diferença de altitude de 1.000 metros, desde a nascente até onde se junta ao rio Danúbio, em Passau. A sua área de influência é de aproximadamente 850 km². Devido ao seu leito de granito duro, a água do Ilz é muito macia, contendo quantidades muito baixas de cálcio.